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TOCAR É EDUCAR - Susan Andrews
Nos idos dos anos 1970, o pesquisador Robert Nerem, da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, ao estudar doenças cardíacas, alimentou coelhos com uma dieta rica em colesterol. Ao avaliar os resultados, para sua surpresa ele viu que as artérias de um grupo de coelhos estavam muito menos obstruídas com placas de gordura que as dos demais submetidos à mesma dieta. Perplexa, sua equipe investigou: por que será que os coelhos confinados nas gaiolas mais baixas eram os mais saudáveis?
Viu-se depois que o assistente, quando alimentava os coelhos, freqüentemente levava sua filhinha consigo. Ela costumava tirá-los das gaiolas mais baixas para fazer-lhes festa. Seu toque amoroso diário reduziu a doença cardiovascular dos coelhos cerca de 60%.
Recentemente, como o psiquiatra americano John Ratey alertou, "a medicina moderna perdeu contato com os benefícios do contato". Mesmo assim, mais e mais profissionais de saúde estão se dando conta de estudos que provam que a massagem ajuda os asmáticos a respirar melhor e os bebês prematuros a crescer mais rápido, fortalece o sistema imune em pacientes com HIV, alivia as dores de enxaqueca e artrite, melhora a capacidade de concentração em crianças autistas e hiperativas e reduz a ansiedade em adolescentes deprimidos.
Pesquisas feitas pela médica Sonya Khilnani, na Escola de Medicina da Universidade de Miami, mostraram que adolescentes diagnosticados com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) que receberam massagem, quando comparados a outros que não receberam, consideraram-se mais felizes e foram avaliados por seus professores como "menos irrequietos e hiperativos e mais focados nas tarefas". Os medicamentos usados para tratar TDAH, incluindo a Ritalina, aumentam o nível do neurotransmissor cerebral dopamina, que permite que qualquer pessoa - com déficit de atenção ou não - mantenha mais o foco e finalize as tarefas. A massagem, como a equipe das pesquisadoras Tiffany Field e Sonya Khilnani mostrou em estudos, aumenta a dopamina naturalmente e sem possíveis efeitos colaterais - em até 30%!
Como parte de nosso esforço de utilizar técnicas simples e naturais para manter a saúde integral e aliviar o estresse, nossa equipe está treinando educadores em diversas cidades do país para incluir massagem e auto-massagem na rotina escolar. Nessa hora, é difícil dizer quem curte mais, as crianças ou os professores.
Uma menina da 2a série do ensino fundamental de Santa Catarina comentou: "Adoro a massagem, quero fazer todo dia. Deixa o corpo ótimo. As mãos das pessoas parecem que têm um creme". Outra criança disse: "A professora faz a gente massagear uns aos outros, se abraçar, é muito legal. Ontem eu até fiz esse negócio aí com meu pai! Ele estava me olhando, enquanto eu estava fazendo a automassagem, e perguntou o que eu estava fazendo. Daí fiz massagem nele. Depois ele ficou mais calmo. Relaxou tanto que até dormiu!".
Uma professora notou os resultados: "Depois da automassagem, os alunos descontrolados emocionalmente estão mais carinhosos e voltam para a sala de aula mais tranqüilos e com mais atenção. Se fosse para dar uma nota para a melhora do comportamento e do rendimento escolar desde que começamos essas práticas, eu daria 85%".
A psicoterapeuta Virginia Satir costumava dizer: "Você precisa de quatro abraços por dia para sobrevivência, oito para manutenção e 12 para crescimento". Se você ainda não viu o vídeo Free Hugs, ou Abraços Grátis, no YouTube, vale a pena dar uma olhada.
Aqui no Brasil, temos muito a ensinar ao mundo sobre abraços. E nós mesmos não deveríamos esquecer isso. Na escola e em casa.
SUSAN ANDREWS é psicóloga e monja iogue.
Autora do livro Stress a Seu Favor,
Ela coordena o Parque Ecológico Visão Futuro.
www.visaofuturo.com.br
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