Textos
Os melhores passos contra a depressão - Susan Andrews
por Susan Andrews
É preciso deixar a passividade de lado
Desde o advento da história escrita a depressão tem atacado tanto jovens como velhos, mergulhando-os em intermináveis períodos de “mórbida melancolia”. O rei Saul é descrito na Bíblia como tendo cometido suicídio por causa dela. Mas agora, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão é a quarta maior causa de morte e incapacidade no mundo, e no ano 2020 será a segunda.
Em minha última coluna, escrevi sobre o poder da festividade para gerar bem-estar e até mesmo transcendência coletiva. E sobre a obliteração dessas jubilosas tradições nos tempos modernos. De acordo com a autora americana Barbara Ehrenreich, tanto a depressão quanto o desaparecimento dessas festividades coletivas são conseqüências aparentemente inevitáveis da intensificação da industrialização, da urbanização e do isolamento. “Podemos ter alcançado brilhantes conquistas nas áreas da ciência, tecnologia e indústria, mas, com a supressão das festividades, que acompanhou o ‘progresso’ no mundo moderno, descartamos uma das mais antigas fontes de ajuda”, diz ela.
Há quase 2 mil anos, o musicólogo Aristides Quintilianus observou: “A ansiedade depressiva pode ser afastada pelas melodias e danças de rituais, num modo alegre e brincalhão”. Lamenta o autor inglês Richard Browne, no século XVIII: “Podemos ver quão vasta e alegre é a influência de cantar e dançar sobre a mente dos humanos, e ao mesmo tempo ficar espantados que essas diversões são tão pouco praticadas, uma vez que suas vantagens são tão numerosas”.
Uma marca cultural da era moderna é a substituição dos alegres e participativos festivais por espetáculos vistos por uma platéia silenciosa, sedentária, passiva e cada vez mais obesa. O especialista britânico em criatividade Ken Robinson fez pilhéria: “A maioria das pessoas vive na cabeça. Elas encaram seu corpo como uma mera forma de transportar a cabeça, um meio de fazer com que sua cabeça chegue às reuniões”. Mas aí veio a rebelião do rock nos anos 1960 que nos impeliu para fora da inércia. O líder dos Panteras Negras, Eldridge Cleaver, destacou os fãs de rock “balançando, rodopiando e sacudindo, tentando reclamar de volta seus corpos, após gerações de alienação e existência desencorpada”.
É a hora de restaurar os rituais de dança que uniram humanos desde a Pré-História
Atualmente voltamos a nos recolher no imobilismo. Com exceção do Carnaval anual e das raves da juventude, estamos a maior parte do tempo estáticos diante da TV e do computador. Talvez seja a hora de restaurar nossa herança de alegria coletiva, os rituais de dança e festividades que uniram e curaram os grupos humanos desde a Pré-História. Temos algo a aprender com os membros da tribo !kung, do Deserto do Kalahari, na África, que coletivamente despertam sua energia espiritual. Eles entram em estados expandidos de consciência por meio de danças extáticas que duram a noite inteira, promovendo a cura para indivíduos e a comunidade como um todo. Um curandeiro !kung descreveu: “Você dança, dança, dança e dança. Aí a energia espiritual se eleva e você começa a tremer. Você vê tudo aquilo que está perturbando cada um. A energia entra em cada parte de seu corpo, dos pés até a ponta dos cabelos”.
Os benefícios não se restringem aos povos tribais. Na Universidade Karlstad, na Suécia, os pesquisadores estão aliviando a depressão de adolescentes com dança-terapia. “A dança é um bom modo de aumentar a energia e a alegria de viver em meninas depressivas”, diz a professora Erna Gronlund. De fato, dança e canto aumentam a dopamina, o “neurotransmissor da felicidade”.
Por isso, se você estiver se sentindo “para baixo”, lembre-se da recomendação dada por Browne: doses regulares de dança, preferivelmente “uma hora ou mais, quando conveniente, após cada refeição”.
SUSAN ANDREWS
é psicóloga e monja iogue. Autora do livro Stress a Seu Favor, ela coordena a ecovila Parque Ecológico Visão Futuro e escreve quinzenalmente em ÉPOCA.
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