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Cozinha que Cura
Cozinha que cura
Retorne às raízes transformando o sua comida em fonte de saúde, prazer e remédio
Por Patrícia Ribeiro
Antigamente, a cozinha era o lugar onde se preparavam as refeições que iam nos sustentar o dia inteiro. Nossas avós e bisavós costumavam usar alimentos frescos, saídos diretamente da horta e do pomar.Isso garantia um sistema imunológico forte. E quando adoecíamos, os remédios eram as plantas medicinais, ervas e temperos que curavam quase tudo. A boa notícia é que cientistas, médicos e nutricionistas estão cada vez mais interessados em pesquisar esses velhos hábitos alimentares e as pesquisas nessa área revelam que a alimentação pode prevenir e tratar certas doenças.
O segredo para manter a saúde e ter vida longa é simples: consumir menos alimentos industrializados, se possível ingerir somente orgânicos, ter uma dieta bem variada, rica em vegetais, frutas, grãos, cereais e carnes magras. Parece fácil na teoria, mas por que é tão difícil fazer isso na prática? Os nutricionistas explicam que é uma questão de mudanças de hábitos. E para aqueles que acreditam que alimentação saudável não combina com sabor, os especialistas garantem que há uma ampla variedade de receitas deliciosas que fazem bem para a saúde.
A terapeuta e culinarista naturista Carla Saboya, do Rio de Janeiro, ensina que para ser saudável, a dieta tem de ser variada. “O ideal é comer variedades e porções de vários grupos de alimentos, como cereais integrais, verduras, raízes e frutas”, diz. O especialista em nutracêutica e autor do livro Lugar de Médico é na Cozinha (Ed. Alaúde), Alberto Peribanez Gonzalez, defende a alimentação viva — alimentos crus e germinados —, orgânica como forma de prevenir e tratar as doenças. Segundo ele, o que não deve faltar na dieta diária do brasileiro são frutas frescas, hortaliças e grãos. “Ao mesmo tempo, deve-se evitar todos os açúcares, mesmo os mais integrais, assim como as farinhas e o pão e os alimentos industrializados”, explica
Menos radical, Carla Saboya acredita que é possível ter uma dieta equilibrada, é necessário fazer substituições. “Por exemplo, o arroz pode ser substituído pela quinoa, batata, batata-doce, cará, mandioquinha e mandioca”, ensina.
Preparo dos alimentos
Quem acha que lavar as verduras e frutas em água corrente é o suficiente para matar as bactérias está enganado. Os especialistas dizem que, mesmo no caso de orgânicos, a lavagem deve ser bem cuidadosa, principalmente no caso das folhas, que devem ser lavadas uma a uma. No caso de legumes e frutas, o ideal é lavar com uma escova ou esponja as de casca mais grossa. “A verdura deve ser bem lavada e deixada de molho por uns 15 minutos. Muitas pessoas têm problemas de vermes porque não tomam esses cuidados”, diz Carla.
Depois de lavadas, podem-se deixar os alimentos mergulhados na água com duas colheres de sopa de vinagre para cada litro de água por 30 minutos. O vinagre não mata as larvas, mas faz com que se soltem das verduras. Ou ainda deixá-las de molho com água sanitária ou em uma solução de hipoclorito de sódio e permanganato de potássio chamada hidrosteril com meio litro de água por 15 minutos, que elimina larvas e bactérias. Depois de qualquer um desses procedimentos, é necessário lavar os alimentos novamente em água corrente.
Além de escovas de uso culinário para limpar os alimentos, o dr. Alberto recomenda lavar bem as mãos antes de manipular os alimentos com sabão de coco. Ele alerta que verduras da horta orgânica não devem ser lavadas antes de ir para refrigeração, pois perderão a flora bacteriana de cobertura, entrarão em desequilíbrio e degenerarão dentro da geladeira.
Outros cuidados que devemos ter é conservar as sementes em recipientes que não sejam transparentes, nem de alumínio. Podem ser potes de plásticos, desde que sejam muito bem vedados e secos, pois a luminosidade oxida os alimentos.
Ciência e Ayurveda
O que a ciência descobre pelos resultados das pesquisas em laboratórios, a medicina ayurvédica sabe na prática. Estudos mostram uma relação entre o consumo de vegetais e uma série de benefícios à saúde. “Dentre esses alimentos, podemos citar o aipo, com ação antioxidante e anti-inflamatória; e a cebola, que reduz o colesterol, a formação de coágulos sanguíneos, diminui a pressão arterial e a arritmia cardíaca”, diz Sônia Soares Costa, professora do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ela coordena, junto com a professora Russolina Zingali, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, algumas pesquisas com a salsinha que revelam que suas folhas possuem a propriedade de diminuir a formação de trombose em ratos. “Esse condimento é usado ao longo da história da humanidade para tratamento de várias doenças. É considerado cicatrizante, anti-hemorrágico e benéfico no combate aos problemas digestivos, como flatulência e aerofagia. Também é considerado um regulador do ciclo menstrual e estimulante das funções renais”, esclarece Sônia.
Outros estudos sugerem que a curcumina, presente na cúrcuma e conhecida na culinária como açafrão-da-terra, auxilia no tratamento de câncer de pele e que o curry pode diminuir a incidência do Mal de Alzheimer e Parkinson, é anti-inflamatório e antioxidante. Em geral, as pimentas ajudam a reduzir o colesterol e aceleram o metabolismo.
A médica ayurvédica Maria Stela de Simone, do Rio de Janeiro, explica que os condimentos ajudam a eliminar ama, que são os alimentos que não foram digeridos e formaram toxinas. “As plantas medicinais, principalmente as mais picantes, têm maior conteúdo dos elementos fogo e ar, que ajudam o organismo a fazer uma autodepuração e desintoxicar.” Segundo ela, não é necessário encher o prato de condimentos para ter os benefícios. “Basta usar uma pitada diária, o uso deve ser constante”, lembra. Ela ressalta ainda que quem mais se beneficia com as especiarias mais picantes é o dosha kapha. “Os desequilíbrios desse dosha são colesterol alto, diabetes, inchaço e acúmulo de muco e eles podem fazer uso de todas as pimentas fortes, raiz-forte, alho, gengibre, curry e pimenta-do-reino.” A médica lembra que pitta deve evitar esses temperos fortes, mas pode comer à vontade os menos picantes, como orégano, manjericão, salsa, coentro, manjerona, erva-doce e hortelã e vata deve ficar no meio-termo, consumir moderadamente um pouco de tudo e principalmente noz-moscada, cominho, mostarda, canela, cravo, açafrão e cardamomo.
Publicado orginalmente na PYJ nº 28
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