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Acupuntura Aplicada em Ginecologia - Cisto do Ovário: um Estudo de Caso
ROSEANE ASSUMPÇÃO SAID
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir - CETN
Este trabalho apresenta um estudo de caso clínico de uma paciente portadora de cisto ovariano há seis anos. Os ovários são dois órgãos do tamanho de uma amêndoa, que ficam nos dois lados do útero. Eles produzem os óvulos e os hormônios femininos (estrógeno, progesterona e outros). Crescimentos chamados cistos podem se formar dentro, sobre ou fora do ovário. Os cistos são sacos preenchidos pôr material fluido ou semi-sólido.
É comum encontrar cistos de ovário em mulheres em idade fértil. Os cistos raramente são cancerosos.
O principal objetivo foi o de analisar a intervenção da Acupuntura no tratamento de cisto ovariano de modo a observar os resultados após o uso de terapêuticas recomendadas pelas teorias fundamentais da medicina chinesa. A questão da investigação de caráter qualitativo foi a utilizada. Quanto à técnica do estudo constituiu-se de entrevistas semi-estruturadas e anamnese cujos temas abordaram aspectos de saúde/doença da paciente, desde o surgimento dos sintomas até o levantamento do diagnóstico. Em seguida foi elaborado o prognóstico; no que diz respeito à análise e à interpretação dos dados foram elaboradas com base nos fundamentos da medicina chinesa e as práticas adotadas e recomendadas para o tratamento em questão.
A pesquisa realizada foi do tipo experimental em uma paciente do sexo feminino, 49 anos, divorciada, três filhos sofre de mucorréia há quatro anos, sem odor, gelatinosa de cor transparente; um cisto ovariano no lado esquerdo medindo de 3,0 x 1,5cm há cinco anos; menorragia e dismenorréia desde a sua menarca aos quatorze anos de idade. Conforme avaliação inicial observou-se que a paciente apresenta pouca transpiração, tem preferência por doce; queda de cabelos em excesso, menstruações em excesso, com dores e sangue menstrual com coágulos; o corpo da língua é de cor vermelha nas laterais, marcas dentadas e largas, saburra branco-clara, com presença de umidade; o pulso na parte do fígado forte, na vesícula biliar vazio, baço pâncreas forte, estômago vazio, rim fraco e bexiga vazio. Em novembro de 2009, teve uma crise de dor pélvica do lado esquerdo, tendo excesso de mucorréia e febre, com dilatação no abdome no baixo ventre como se estivesse grávida de sete meses.
Instrumentos Utilizados para Coleta de Dados: entrevista semi-estruturada; Ficha de Anamnese e agulhas sistêmicas, agulhas auriculares, moxaterapia e ventosa.
Procedimentos utilizados na Coleta de Dados: para a Avaliação Inicial foram observados pontos específicos como a língua, o pulso e toques manuais na pelve e com apalpador de Nogier na aurícula da paciente para identificar os pontos correspondentes aos Zang Fu adoecidos.
Impressão Inicial (Teoria dos Cinco Elementos): os elementos Madeira, Terra e Água comprometidos/Ciclo de Dominância.
Diagnóstico: Estagnação do QI e umidade (mucosidade) de Baço (Pi), estagnação do Xue do Fígado (Gan) e deficiência do Yin de Rim.
Princípio Terapêutico: Mover a estagnação do QI e umidade do baço, mover a estagnação do Xue do Fígado e tonificar o Yin do Rim em um período de dez sessões semanais.
Metodologia: Aplicado a técnica da Moxabustão na área do abdome e nos meridianos da Bexiga para promover a liberação e movimentação do QI e Xue; e Auriculoterapia (Shen Men, Útero, Fígado, Rim, Baço e Ovário).
Aplicada em seguida a técnica da Ventosa no meridiano da Bexiga para liberar o QI do Baço e mover a estagnação do Xue do Fígado. Os pontos escolhidos foram:
Vaso Concepção (Ren Mai): ponto de abertura P7 e o acoplado R6.
Vaso Penetrador (Chong Mai): pontos de abertura BP4 e o acoplado CS6.
Pontos do meridiano Ren Mai, VC4, VC5 (moxa), VC6.
Pontos BP3 e BP6 do Baço.
Os Pontos Fontes/Principais trabalhados foram os seguintes:
F3, R3, P7, R6, R3, BP4, BP3, Cs6,VC4, VC5 VC6, BP6.
A terapêutica se dividiu em duas etapas. A primeira distribuída em dez sessões, onde foram aplicadas a moxa abdominal e os pontos:
1. ETAPA
1. Sessão: 21/02/2010: moxabustão no abdome e no Meridiano da Bexiga. Duração: 40 minutos.
Da 2ª a 10ª sessão segui-se o mesmo procedimento a seguir:
Aplicou-se moxabustão no abdome e no meridiano da bexiga, feito ventosa só no meridiano da bexiga. Pontos: P7; R6; BP4; F3; CS3; BP3; R3.
Após a aplicação de dez sessões semanais, solicitou-se avaliação médica através de um ultra-som transvaginal para acompanhamento da evolução do tratamento. O resultado revelou o desaparecimento do cisto ovariano e evidenciou a presença de um micro policístico. Prosseguiu-se com a terapêutica para realizar a segunda avaliação com o objetivo de assegurar a eficácia do tratamento proposto.
2. ETAPA
1. Sessão: 02/05/2010
Paciente com aspecto saudável. Verificou-se o pulso e a língua. A Língua apresentou pouca umidade, pouco demaciada. O Pulso normal, só BP forte. Aplicou-se moxabustão no abdome e no Meridiano da Bexiga. Ventosa só no Meridiano da B. Pontos trabalhados: BP4; Cs6; VC5; VC4; VC6, R3; F3; BP3; BP6.
Seguiu- se com o mesmo procedimento por mais 2 sessões
Este segundo momento de observação indicou que o tratamento foi positivo não havendo necessidade de continuar com a terapêutica de tratamento sistemático, entretanto, decidiu-se mantê-lo como tratamento de acompanhamento periódico, uma vez que o clima dessa região é quente-úmido, o que provoca episódios recorrentes de casos dessa natureza com freqüência e facilidade.
DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com princípios norteadores fundamentais o procedimento da Medicina Tradicional Chinesa, os Vasos Maravilhosos são meridianos virtuais que se manifestam quando há distúrbios energéticos nos meridianos principais, por excesso ou insuficiência. Estes Vasos Maravilhosos agem como reservatórios de energia (QI) relativamente aos meridianos principais. Portanto, quando os meridianos principais estiverem em plenitude, os Vasos Maravilhosos não podem canalizar energia por implicar em excesso nestes meridianos. Entretanto, quando da deficiência de energia nos meridianos principais esta deverá ser a canalizada através dos Vasos Maravilhosos para os meridianos principais e assim alcançar o equilíbrio energético, recomenda Sussman (2007).
Com base nesta explicação, assegurou-se o princípio terapêutico de tratamento dado o fato de os Vasos Maravilhosos atuarem no processo de reservar o QI, fazer circular a essência e o QI pelos meridianos, o Wei QI (energia de defesa) e assim potencializar a resposta de tratamento, promovendo a conexão dos QI's pré e pós-celestial.
O Vaso Concepção (Ren Mai) foi selecionado devido as suas funções específicas de mover o QI nos três aquecedores, potencializar e nutrir o Yin QI do organismo, fortalecer o Rim (Shen), fortalecer o Wei Qi, reequilibrar as emoções e mover a via das águas. O P7 por ser ponto de abertura do VC1, para estimular o QI defensivo, acalmar a mente (assenta a alma corpórea) e o R6 que é acoplado para fazer a tonificação do Yin do Rim e tratar o útero.
A escolha do Vaso Penetrador (Chong Mai) justifica-se pela sua função específica de regularizar a menstruação, mover o QI e o Xue do abdome, tonificar o Qi do Rim (Shen), Baço/Pâncreas (Pi) e equilibrar as emoções correspondentes ao Rim (Shen), Baço/Pâncreas (Pi). O BP4 por ser um ponto de abertura e regulador do Yin de BP, F e R. O CS6 que é o acoplado para melhorar o estado geral e mover a estagnação de QI e Xue e fleuma.
O Qi e o Sangue passam pelo Vaso Penetrador e tem íntima relação com o Útero e o Gan (Fígado), influencia o suprimento e o movimento próprio do Sangue no Útero, e controla a menstruação em todos os aspectos, assegura Auteroche (1992).
Segundo a MTC os Pontos Fontes têm como função do meridiano Yin para tonificar a deficiência do Yin e dispersar o excesso, estabilizar as emoções, equilibrar o Yin/Yang e auxiliar a homeostasia corporal. O R3 é um ponto que tonifica o Yin do Rim, equilibra o Yin/Yang do organismo, beneficia a essência e regulariza o útero. O BP3 tonifica o BP, resolve a umidade. O F3 tonifica o QI e alivia a estagnação do fígado, tonifica e circula o QI e Xue, promove o fluxo suave do QI. O BP6 é o ponto de encontro dos três Yins da perna (F, R, BP) nutre o Yin de BP, F e R, forma e circula o QI e Xue, elimina umidade, é um ponto aplicado à ginecologia, pois regula a menstruação, alivia a cólica. O Qi Men VC4 fortalece Yin do Rim, circula o QI (com moxa) dispersa umidade.
O VC5 (com moxa) e o ShenMen do corpo servem para promover o metabolismo dos fluídos e remover a umidade-fleuma do útero. O Jingzhong VC6 tonifica (com moxa) o QI, fortalece circulação do QI, e elimina estagnação de umidade. A Ventosa faz o equilíbrio geral, buscando a homeostasia do organismo. A Moxabustão é um método terapêutico que trata e previne doenças, sendo aplicada para estimular calor nos pontos e canais de acupuntura, ela é indicada para fazer circular o Xue; Qi e o Xue nos meridianos, patologia de umidade. Em outros termos, a MTC esclarece que os pontos Yuan são designados de pontos fonte. O Yuan QI primário é quente e promove os órgãos. Os pontos fonte atuam diretamente nos sistemas Yin. Realçam-se duas diferenças cruciais na utilização dos pontos fonte Yin e Yang: os pontos fonte Yin são utilizados para tonificar o Yin enquanto que os pontos fonte Yang são usados, principalmente, em condições de plenitude.
Esta prática milenar afirma que os melhores pontos para tonificar o Yang são os pontos do Mar Inferior. Nos meridianos Yin, os pontos Yuan correspondem aos ponto Shu (terceiro ponto dos cinco pontos Shu), enquanto que nos meridiano Yang os pontos fonte se encontram entre o terceiro (Shu) e quarto (Jing) pontos dos cinco pontos. Portanto, em geral, são os quartos pontos a contar das extremidades com exceção para o meridiano da VB o quinto ponto recomendado.
Com relação ao estudo de caso da paciente selecionada para este trabalho científico, segundo históricos clínicos na medicina chinesa o cisto ovariano aparece com a invasão de fatores patogênicos externos no período menstrual ou após o parto, mas pode decorrer de episódios de estresse emocional que provoca a estagnação do QI e do Sangue. Estes fatores podem provocar fleuma no ovário e o câncer de ovário o que tem levado a óbito um número relativo de mulheres jovens uma vez que os sintomas se manifestam em fase avançada da doença. Através desta pesquisa percebeu-se a importância de um tratamento sistemático para o caso de cisto de ovário, sem intervenção cirúrgica, desde que seja detectado no inicio. Observou-se o desaparecimento dos sintomas através dos sinais revelados pela paciente e pela observação dentro dos princípios adotados pela acupuntura - língua, pulso e com o exame de imagem de alta resolução médica (transvaginal 3D).
Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas nessa área e com uma amostra maior para que possam ser comprovados cientificamente os resultados neste campo de saúde/doença.
Fonte: http://www.cetn.com.br/artigos/acupuntura-aplicada-em-ginecologia-cisto-do-ovario-um-estudo-de-caso/20110726100148_X_394