Textos
Ganesha - O Removedor de Obstáculos
por Jonas Masetti
O que é Ganesha?
Ganesha é um símbolo para Deus presente na tradição védica e também utilizado pela religião hindu. Ele é caracterizado por ter uma cabeça de elefante e corpo de gente e também popularmente conhecido como Senhor dos obstáculos. É importante fazer essa distinção entre hindus e tradição védica porque com base nos Vedas dentro da Índia possuímos uma infinidade de seitas e religiões, sendo mais fácil definir a tradição védica do que o próprio hinduísmo. Ele está presente em todas as linhas religiosas e devocionais que se estruturam em torno dos Vedas e por isso é visto por toda Índia. Tradicionalmente todo altar possui uma forma de Ganesha e todo ritual, oração ou até mesmo os empreendimentos começam com uma oração para ele. Mas o que é Ganesha? O que ele representa?
Se levarmos em consideração que todas as religiões e grupos que existem hoje possuem no máximo dois mil anos com raras exceções, podemos dizer que Ganesha tem sido uma forma marcante na história da humanidade, acompanhando os Vedas ao longo das eras. Sua imagem não o coloca em disputas religiosas, pois ele não tem forma humana para disputar em caráter histórico e nem a forma de um animal que poderia ser descartada por críticos religiosos como uma adoração pagã. Assim com essa combinação curiosa ele vem cruzando as eras e atualmente na Índia ainda é a divindade ou forma de Deus mais popular. Pessoas no mundo inteiro se identificam com o sua forma. Em uma era preocupada com a estética e a aparência, um Deus com cabeça de elefante e corpo gordo como de uma criança é bem conveniente.
Como Deus é o criador de tudo, não estaria errado dizer que Ganesha é o senhor da fortuna ou do conhecimento, porém a tradição o apresenta predominantemente como aquele que é Vinayaka o senhor dos obstáculos. E esse jogo simbólico de representações é a beleza da tradição que faz com que Deus esteja presente em diferentes aspectos da vida com diferentes nomes.
Existem muitos textos que falam sobre Ganesha: muitos bhajans (músicas), kirtans (músicas para coro), japa mantras (pequenos mantras para repetição), stotrams (versos e poesias), puranas (histórias de caráter mitológico), e até mesmo uma upanishad (texto dedicado ao autoconhecimento) que carrega o seu nome – Ganapati atharva shirsha upanishad. Essa upanishad e a poesia chamada de sankatanashana ganesha stotram, são os textos mais famosos e tradicionais a respeito dessa forma.
Qual a história de Ganesha?
“As histórias mitológicas contam que Ganesha é filho de Shiva. Uma dia quando a esposa de Shiva, Parvati, estava se sentindo só, ela resolve criar um filho para lhe fazer companhia, Ganesha. Enquanto ela tomava banho ela pediu que o filho não deixasse ninguém entrar em casa. Porém, nesse dia, Shiva chegou mais cedo do que se esperava e brigou com o menino que o impedia de entrar na própria casa. Nessa briga o menino perde a cabeça para o tridente de Shiva. Quando a mãe vê, chora e explica o que aconteceu para o marido. Shiva lhe dá de volta a vida e para isso substitui sua cabeça com a do primeiro animal que aparece, um elefante…” As histórias de Ganesha são lindas e inspiradoras. Ele sempre tem um jeito astuto de resolver os problemas. Ele tem um irmão conhecido pelo nome de Kartekeya, ou Subhramanyam, que juntos fazem um monte de aventuras e proporcionam um ensinamento lúdico e simbólico.
E se alguém perguntar: – “Por que rezar para esse símbolo de Ganesha?”
Bom primeiro que ninguém reza para símbolos – ou pedaços de pedra. Os símbolos são apenas um veículo para a mente trazer uma determinada atitude. Da mesma forma que um militar que faz continência para bandeira do seu país, ele não está saudando o pano, nem muito menos a bandeira. Ele usa a bandeira para trazer na sua mente seu compromisso com a pátria, seu propósito e fazer com que essa atitude faça parte da sua vida. Assim como uma mãe coloca a foto do filho que já partiu e conversa com ele. Assim como carregamos uma folhinha de ashvattha para lembrar do ashram dentro do livro. Todos esses são símbolos e isso é muito importante para a mente dar realidade às relações e colocar emoções para fora. E o que é Ganesha enquanto símbolo?
Na Índia e na internet podemos ver de tudo, mas nos templos tradicionais a imagem de Ganesha possui medidas bem definidas.
A primeira coisa é que ele tem cabeça de elefante. O elefante simboliza o contentamento pois sua face transmite uma paz e sua tromba remete ao discernimento e à perícia em conduzir uma vida adequada. As orelhas simbolizam o dharma e o adharma, aquilo que é certo e errado e sua tromba posicionada entre as duas é capaz de levantar um tronco de árvore ou um cotonete. E é assim que devemos ser na vida, conseguir distinguir o certo e o errado não apenas nas grandes situações da vida mas também nos seus aspectos mais sutis. A cabeça de elefante simboliza esse intelecto com paz e maturidade.
Ele é ekadantam, pois possui apenas um dente. Isso quer dizer que ele não escovou os dentes? Não! A história diz que quando Vyasa precisava de um escritor para colocar os Vedas no papel, ele foi o primeiro a levanta a mão. E Vyasa disse para ele: “mas você não tem lápis ou caneta.” Ele crack! quebrou o dente e falou: “problema resolvido!” A idéia aqui é: a prontidão para se doar. Não existe relação com nada, nem ninguém, quando não existe uma auto-doação. Você se oferece à outra a pessoa, você confia, você dá um pouco de si e a outra pessoa faz o mesmo essa é a base de toda relação e seu dente quebrado é para a gente lembrar disso.
Ele tem quatro braços. Nganesha primeira mão ele segura o dente quebrado. Na segunda e na terceira ele carrega um ankusha (atiçador de elefantes) e um pasha (laço), que são ferramentas usadas para ajudar os seus devotos. Ele tem duas ferramentas porque existem dois obstáculos mentais que precisam ser tratados. Quando a mente está tamas, com lascidão, sem disposição, preguiçosa e improdutiva ele usa o atiçador de elefantes. É aquela alfinetada que não deixa ninguém dormir no ponto. Ele faz dessa maneira porque essa característica tamas só é vencida com o movimento chamado de rajas. Assim o ankusha nos ensina que para sair de tamas usamos rajas.
E quando a mente está rajas, produtiva e com velocidade, existe uma zona de perigo, quando essa velocidade passa do limite. Seja para nossa saúde, para os nossos relacionamentos ou para o próprio ego que começa a crescer e se achar demais. Esse é o momento que ele usa o laço, segura a gente ou dá aquela puxadinha no pé que faz a gente tropeçar e lembrar que não somos o “rei da cocada preta”. O laço traz a gente de volta para o centro mostrando que temos um pequeno papel dentro desse mundo enorme. Esse é o segundo símbolo, ele nos ensina a colocar o limite e trazer o ego de volta. Esse limite é colocado pela presença de sattva nas ações, o compartilhar, dividir e pensar no próximo.
A quarta mão é o varada mudra, a mão que abençoa. Abençoa dando resultado das nossas orações, e mais ainda sendo um refúgio para os devotos. Refúgio, pois a oração está sempre disponível e ela está conectada com a estabilidade emocional e evolução espiritual da pessoa. Essa mão em varada mudra é comum a muitas imagens, pois simboliza a disponibilidade de Deus e o papel da devoção no crescimento do indivíduo.
Seu veículo é o rato, pois ele que controla os pensamentos de todas as mentes. Ninguém realmente sabe qual será seu próximo pensamento, eles são dados pelo criador a cada instante. E o rato nos lembra disso, pois ele é como a mente que vai para lá e para cá incansável.
Ganesha ainda tem um barrigão, pois como ele é o criador do universo e estando o universo todo dentro dele, ele precisa de uma barriga enorme para isso. Esse é o símbolo da sua barriga.
Por fim ele é chamado de Senhor dos obstáculos, pois ele é aquele que coloca e aquele que tira os obstáculos da vida das pessoas. Ele é o que regula os karmas e dá os resultados das ações para as pessoas. E é por isso que quando queremos tocar nossos empreendimentos para frente pensamos nele. Isso é uma forma genial da tradição de trazer a visão de Deus para vida. Quando começamos algo naturalmente planejamos e pensamos nos obstáculos, e aí naturalmente como o obstáculo está associado a Ganesha, lembramos de Deus. Fazemos nossa oração e começamos.
Existem outras interpretações e não precisamos ser radicais, desde que seja coerente com a tradição. Alguns artistas o colocam segurando uma flor, outros um prato com doces, isso é apenas uma expressão artística, que também pode ser útil para algumas pessoas. Não existe um Deus com cabeça de elefante sentado em lugar nenhum e nem tão pouco se reza para um símbolo, é preciso de certa maturidade religiosa para entendê-los e utilizá-los como um instrumento de crescimento e apreciação de Deus. OM TAT SAT.
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