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O que o Yoga oferece que faz tanto sucesso?
Betriz de Albuquerque da Folha de São Paulo

O que o Yoga oferece que faz tanto sucesso?


BEATRIZ ALBUQUERQUE
da Folha de S.Paulo

Nem tão lenta quanto o tai-chi, nem tão acelerada quanto a aeróbica, o Yoga está atraindo um número cada vez maior de interessados para esse milenar sistema da filosofia indiana que usa o corpo como instrumento de crescimento físico e espiritual.

A idéia mais corrente é que o Yoga "acorda" os músculos e os sentidos, ao mesmo tempo em que "aquieta" o espírito, o que levaria, finalmente, a uma aliança entre corpo e mente.

"Se a pessoa tem grandes músculos, mas continua frustrada, alguma coisa está errada", diz Márua Roseni Pacce, psicóloga e professora de ioga há 30 anos, os últimos seis no Núcleo de Yoga Ganesha, nome do mais popular entre os deuses indianos.

No Brasil, nos Estados Unidos e na Inglaterra, fala-se em um segundo boom do Yoga, mas, desta vez, ela chega menos como filosofia e mais como um conjunto de exercícios que pode ser praticado por qualquer mortal -um pouco na contramão do clima de 1968, quando o ex-beatle George Harrison ia até a Índia conversar com o guru Maharishi Mahesh e muita gente ansiava por se livrar de trabalho e compromissos para se concentrar num "renascimento" espiritual.

Não se aposta mais todas as fichas na meditação, nem todos pensam em simplesmente fortalecer os músculos com as contorcionistas "ásanas" (as posturas iogues). A saída agora é andar pela vida de uma forma mais integrada: "O conceito de saúde, no Yoga, é o bem-estar", diz Márua Pacce.

Atletas, médicos, psicólogos e empresários estão entre os quase 300 alunos de Yoga do Cepeusp, o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo. Outros 40 seguem o curso Estudos da Teoria e da Prática de Ioga, uma parceria do Cepeusp e da faculdade de letras.

Nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), de São Paulo, cerca de 400 alunos passaram pelas classes de extensão e pós-graduação em ioga desde 1994.

Ioga era uma das matérias da educação física da USP em 1975, quando Marcos Rojo se formou.

Hoje, ele é coordenador-técnico dos cursos de Yoga nas FMU e tem participado de intercâmbio com a Escola de Kaivalyadhama, na Índia, que pesquisa técnicas de ensino desde 1924. "Muitos conceitos estavam esquecidos ou perdidos, porque a tradição era passada do guru ao iniciante sem deixar registros", diz Rojo.

As grandes academias também incluíram ioga em sua programação, com variantes da "ashtanga" -ou "power" Yoga-, mais recomendada para quem tem bom domínio físico, como atletas e bailarinos. E em toda parte existem planos de aumentar o número de vagas em 2002.

Há um tom de desalento entre alguns professores, quando dizem que essa movimentação foi provocada por Madonna, que se declarou praticante de ioga à revista "Time".

Apesar das reservas, eles são os primeiros a fazer a conexão entre a cantora e o fato de tanta gente estar à procura dessa união (tradução literal de ioga) entre corpo e mente.

Madonna escolheu a "jivamukti", uma variante da "power" yoga que também dá ênfase à meditação, à leitura e aos mantras entoados ao final de cada sessão.

Ela faz parte de um contingente de 15 milhões de norte-americanos que incluíram algum tipo de yoga em seu programa de fitness -número duas vezes maior do que o de cinco anos atrás.

"Tudo depende do empenho de cada um. Eu mesmo não faço nada pelas pessoas", diz José Hermógenes, um dos pioneiros no ensino de ioga no Brasil. Professor desde 1963, no Rio de Janeiro, ele lamenta quem supõe que ioga seja só uma prática física: "É como comer a casca e jogar fora a fruta".

Geralmente, uma pessoa respira de 17 a 20 vezes por minuto. Com o yoga, pode chegar a quatro vezes por minuto, numa respiração muito lenta e profunda, que oxigena melhor o cérebro e o corpo. Isso pode ser medido. Mas ainda é difícil precisar a extensão dos efeitos terapêuticos do yoga.

Pesquisadores americanos observaram pacientes com problemas cardíacos, câncer de mama e próstata e um grupo de mulheres na menopausa que praticavam ioga, mas não chegaram a conclusões a respeito dos benefícios.

Primeiro porque os efeitos da ioga sobre corpo e mente são tão sutis quanto complexos, segundo porque ela era oferecida sempre como terapia complementar sem substituir remédios, por exemplo.

Até os yogas "malfeitas" podem ser mais eficientes do que uma simples ginástica, de acordo com a psicóloga Doucy Douek, formada pela PUC de São Paulo e com curso de formação em ioga em Montreal, no Canadá. "Somos um pouco como gatos, precisamos esticar, alongar, antes de acordar os sentidos e a mente."

Se ainda há dúvidas sobre como executar algumas posturas do yoga levantando o pé à altura dos olhos ou se equilibrando de ponta-cabeça, Márua Pacce diz que é possível, sim, chegar lá.

Ela tem alunas de quase 80 anos que, guardadas as proporções, acompanham quem tem 20 ou 30. "Não é tão difícil buscar essas posturas desafiantes. Só precisamos de tempo e disciplina."

 

 

Fonte: Folha de São Paulo 29/11/2001

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