Cinco Movimentos
Os Cinco Movimentos, assim como os conceitos de Qi, Yin e Yang, Tao, entre outros, são necessários para se explicar a MTC.
A teoria dos cinco elementos ocupa um lugar preponderante na medicina tradicional do Extremo Oriente. Pretendeu-se subestimá-la no Ocidente, pois é aparentemente ilógica, mas nenhum médico tradicionalista oriental pode sonhar em abandoná-la, se desejar praticar acupuntura correta e eficazmente. (SUSSMANN, 1975, p. 95).
A teoria dos Cinco Movimentos é algo extremamente diferente do que o pensamento ocidental está acostumado, a teoria se utiliza de várias facetas diversificadas para explicar a relação do homem com o universo e vice-versa.
É importante esclarecer que os Cinco Movimentos nada têm a ver com a cosmologia grega, onde afirmam que os elementos são somente os fundamentos da matéria. (REQUENA, 1990). Os Cinco Movimentos da MTC são mais amplos, pois representam todas as manifestações energéticas possíveis no universo.
Segundo está teoria existem Cinco Movimentos que formam e sustentam o universo material e energético. Eles são uma forma de variação mais aprofundada entre o Yin e o Yang, uma forma de combinações diferentes entre o Yin e o Yang.
Os cinco elementos aparecem como formações derivadas da ação recíproca do Yin e do Yang. Dão origem, posteriormente, a tudo o que existe sobre a terra, ou, como dizem os chineses, “aos dez mil seres”. O Yin – Yang se manifesta, cria e atua por intermédio dos cinco elementos. (SUSSMANN, 1975, p. 95).
Estes elementos são: fogo, terra, metal, água e madeira. Os chineses afirmam que a movimentação constante e mudança de um elemento em outro, formam e mantém o universo.
A teoria dos cinco elementos afirma que a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água são os materiais básicos que constituem o mundo material. Existe uma interdependência e um controle recíproco entre eles que determina seu estado de constante movimento e mudança. (MAIKE, 1995, p. 40).
A teoria dos Cinco Movimentos procura explicar a relação de estímulos entre os mesmos, afirmando que todas as criações materiais e energéticas são derivadas destes elementos. Pois “Ela relaciona toda a energia e substância a um dos Cinco Movimentos: fogo, terra, metal, água e madeira.” (GERBER, 2004, p. 145).
É afirmado nesta teoria que um elemento gera o outro, ou, que um elemento domina o outro, como veremos adiante. Percebe-se então que o princípio de mudança se faz presente, além da teoria do Yin e Yang, também na teoria dos Cinco Movimentos, e esta teoria pode ser também chamada de “doutrina das cinco fases evolutivas.” (TEORIAS BÁSICAS DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, 2005, p. 22). Mostrando que na MTC, nada é estático, tudo está em movimento permanente.
Os chineses dividiram as manifestações do universo em conjuntos. Assim como existem os conjuntos do Yin e Yang, existem também os conjuntos dos Cinco Movimentos. “Esta classificação, que os chineses criaram como universal, ou então, se preferirmos, eles conseguiram decodificar o universo em conjuntos de coerências.” (REQUENA, 1990, p. 94).
Cada elemento representa um conjunto, de domínio abrangente. Ele pode ser considerado como um microcosmo. Cada elemento possui em si um aspecto Yin e um aspecto Yang e corresponde a um órgão do corpo, a uma víscera, a um dos cinco sentidos, a um dos tecidos corporais, a um tipo de sentimento, a uma direção, a uma estação, a um clima, a uma cor, a um sabor, a um odor, etc. (REQUENA, 1990).
É assim que um dado elemento corresponde a um período do ciclo diurno, um clima (pela mesma relação lógica das seis energias), um planeta, aliás um sofrendo a influência do outro, mas também uma cor, um animal, um metal, uma das cinco notas da pauta chinesa, etc. (REQUENA, 1990, p. 94).
Existem diversas tabelas que mostram estas correspondências citadas acima, entretanto dissertarei primeiro a respeito das concepções individuais de cada um dos elementos.
No conceito primitivo da MTC os elementos eram dispostos em um quadrado com fogo, metal, água e madeira nas extremidades e o elemento terra, no centro. Com o tempo a terra que era disposta no centro passou a ficar delimitada entre o fogo e o metal, deixando então de ser representado em um quadrado e passando a ser representando em um pentagrama.
Na primitiva concepção chinesa (figura 6), os elementos dispunham-se sobre um quadrilátero, achando-se o quinto elemento (terra) no centro. As necessidades de uma representação mais dinâmica, com melhores possibilidades de soluções práticas, deslocou o quinto elemento para a periferia, e desde então eles adquiriram uma representação pentagonal. (SUSSMANN, 1975, p. 95).
Na concepção primitiva, antes dos Cinco Movimentos serem conhecidos como fogo, terra, metal água e madeira, eles eram descritos enquanto labareda, solo, ouro, água corrente e árvore respectivamente. (SANTOS, s.d.).
O nome em chinês da representação dos Cinco Movimentos é Wu Xing. Wu significa em chinês o número cinco (5) e Xing quer dizer movimentação, ação, andar, etc. “O ideograma Xing mostra pés que se alternam; direita e esquerda, evocando a alternância do Yin e do Yang.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 11).
Verifica-se então que Wu Xing significa literalmente Cinco Movimentos, que aqui no ocidente é traduzido como cinco elementos. È importante, devido esta imperfeição na tradução, observar que cada movimento corresponde a um elemento, e mais, não só a um elemento, mas a um cheiro, um gosto, uma cor, a um órgão, uma víscera, etc. como citei anteriormente. Entretanto deve-se ter em mente ao se explanar a respeito dos Cinco Movimentos, que cada elemento possui uma movimentação própria, uma maneira de se expressar. Pois, a palavra, elemento pode trazer o entendimento de algo estático, sem movimento, sendo que o movimento dos Cinco Movimentos é algo dinâmico e constante. (CAMPIGLIA, 2004).
Veremos a seguir como se dá a movimentação de cada respectivo elemento, sua relação com cada órgão, víscera, emoção, cor, odor, sabor, etc. (KWANG, s.d.).
O fogo possui um movimento amplo, abrangente. “Resumidamente, o movimento do fogo é multidirecional, como um estouro.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 11). Seu ideograma em chinês é Huo. O fogo possui uma movimentação ascendente (infla para o alto), ele é expansivo, explosivo. (SANTOS, s.d.). “Sua função é culminar, chegar ao máximo, e sua dinâmica é a explosão.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 11). O órgão que representa o fogo na MTC é o Coração e a víscera é Intestino Delgado. O órgão motor é a fala; o sentimento é a alegria; a cor é o vermelho; o sabor é o amargo; o odor é o queimado; seu clima é o calor; está relacionado à direção sul e sua estação do ano é o verão. (KWANG, s.d.). O elemento fogo está dividido em dois tipos, o fogo imperial e o fogo ministerial, e isto está relacionado com o órgão e a víscera que representa.
A terra possui o movimento da fixação. “A sua função é a transmutação e a sua dinâmica é a de centrar, de fixar.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 12). Seu ideograma em chinês é Tu. “Traduzido como terra, Tu é, na verdade, o símbolo de um altar, que fica no centro do templo. Ou seja, Tu quer dizer centro, um limite entre o céu e a terra entre o mundo interno e externo.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 12). A terra tem o papel de amparar, absorver, suportar, acomodar e transformar. (SANTOS, s.d.). O órgão que representa a terra na MTC é o Baço e o Pâncreas; a víscera o Estômago; o órgão motor é a gustação; o sentimento é a reflexão ou pensamento; a cor é o amarelo ou marrom; o sabor é o adocicado; o odor é o perfumado; seu clima é a umidade; sua direção é considerada o centro e sua estação do ano é a canícula (estiagem entre o verão e o outono). (KWANG, s.d.).
O metal possui o movimento de densidade. É o elemento mais rígido da MTC. “[...] o movimento de energia para dentro (centrípeto), a densidade, a pureza, e a robustez.” (SANTOS, s.d., p. 13). O seu ideograma em chinês é Jin, que “[...] mostra a separação do puro e do impuro, a estratificação.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 12.). Está estratificação pode ser entendida enquanto uma disposição sobre camadas, pois é assim que o metal se mantém em sua forma original. A sua dinâmica é a retração e a decantação. (CAMPIGLIA, 2004). O órgão que representa o metal é o Pulmão; a víscera é o Intestino Grosso; o órgão motor é o olfato; o sentimento é a tristeza ou ansiedade; a cor é o branco; o sabor é o picante; o odor é o cárneo ou carnoso; seu clima é a secura; sua direção é considerada o oeste e sua estação do ano, o outono. (KWANG, s.d.).
A água possui um movimento descendente. (MACIOCIA, 1996a). Ela busca os lugares mais baixos, “[...] se infiltra, se adapta, concentra e repousa.” (SANTOS, s.d., p. 13). O ideograma da água é Shui, “[...] é a imagem da confluência, conduzindo à aproximação, à compreensão e à oscilação em torno de um eixo.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 12). O órgão que representa a água é o Rim; a víscera a Bexiga; o órgão motor é a audição; o sentimento é o medo; a cor é o preto; o sabor é o salgado; o odor é o pútrido; seu clima é o frio; sua direção é o norte e sua estação do ano é o inverno. (KWANG, s.d.).
A madeira possui um movimento vertical e ascendente. “O movimento da madeira é vertical, em direção ao alto. Sua função é a de elevar, sua dinâmica é a projeção.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 11). Seu ideograma é o Mu, “[...] que quer dizer madeira ou árvore.” (CAMPIGLIA, 2004, p. 11). A árvore tem flexibilidade, movimento, maleabilidade. Na China a árvore por excelência é o bambu, que possui as características citadas acima. O órgão que representa a madeira é o Fígado; a víscera é a Vesícula Biliar; o órgão motor é a visão; o sentimento principal é a raiva ou a reatividade; a cor é o verde; o sabor é o azedo; o odor é o rançoso; seu clima é o vento; sua direção é o leste e sua estação do ano é a primavera. (KWANG, s.d.).
Texto produzido por Maykon Bernardo
(recorte de: Psicologia e Medicina Tradicional Chinesa: Pontos de Convergência. Criciúma, 2006, 367 p.)